A Ilha de Chiloé é praticamente onde acaba o asfalto no sul do Chile. Depois disso, os caminhos são por mar ou estradas ruins, não pavimentadas e irregulares. Fomos então até o final da linha no sul desse país. O Conrado foi de BMW R1200GS Adventure e eu (Lígia) de BMW F650GS (800cc). Vem com a gente se encantar!
Castro, Ilha de Chiloé, Chile • dezembro 2010
[20 dez 2010] Paraná, Mina Clavero
Depois de Paraná, seguimos para Mina Clavero, 540 km adiante. Apesar da viagem não ser tão longa, foi bem cansativa, pois tivemos que sair tarde (11 da manhã) por causa da roupa que ainda estava secando. Além disso, passamos por dentro de várias cidades com um trânsito bem bagunçado por dezenas de sinaleiras dessincronizadas.
Mas o final compensou muito; o último trecho foi de perder o fôlego nas sierras cordobesas, uma cadeia montanhosa que chega a 2.200 m de altitude (e a temperatura caiu de 36 graus para 14 graus em apenas meia hora). Dormimos na lindinha Mina Claveros; pena que não deu para aproveitar muito, pois chegamos tarde e no dia seguinte tinha mais 550 km.
[21 dez 2010] Mina Clavero, San Rafael
San Rafael foi um bálsamo para quem passou as últimas 4 horas de viagem cruzando um deserto onde não tinha uma sombra. O termômetro da moto marcou 39,5 graus…
A cidade lembra muito Mendoza; rodeada de vinhedos, ruas larguíssimas, álamos frondosos em toda as ruas irrigados por canais subterrâneos de água de degelo, praças bem cuidadas. Mendoza parece mais rica e mais cosmopolita, mas San Rafael não deixa de ter seu charme.
O farol da minha moto queimou e foi fácil de achar a lâmpada de substituição. Também comemos uma massa maravilhosa na La Gringa. Eita vidinha difícil…
[22 dez 2010] San Rafael, Neuquen
De San Rafael a Neuquén rodamos 593 km sob um sol de fritar os miolos. Ainda bem que rendeu bastante, pois entre um sinal de civilização e outro (entenda-se postos de gasolina), a média era de 170 km!
Ficamos num hotel de beira de estrada em Neuquen (o mais caro até aqui, por sinal, pois nessa região é tudo mais dispendioso) e amanhã cruzamos a fronteira para o Chile.
[23 dez 2010] Paso Pino Hachado
Cruzar a Cordilheira dos Andes sempre é muito emocionante, mesmo que o paso (nome que se dá às estradas que cruzam a cordilheira) não seja tão alto (o Paso Pino Hachado tem 1832 m de altitude).
Saímos de Neuquén tarde (umas 10 da manhã) porque estávamos bem cansados. Pegamos ventos patagônicos na estrada, daqueles em que a moto tem que velejar para não tombar. Depois de um trecho desértico, começou o paso propriamente dito. O cenário muda radicalmente, é como se a gente estivesse entrando num comercial de TV, com cenários perfeitos e deslumbrantes; para as mais fracas, como eu, é de encher os olhos d’água.
Esse paso fica numa região chamada Araucanias, por causa das araucárias, muito comuns no lugar. Há esculturas naturais de pedras, rios de degelo, vulcōes e montes nevados. A estrada é bem sinuosa e o vento continuou a mil por todo o caminho; ao parar, a gente tinha que se cuidar para o capacete não sair voando.
Isso tudo com alguns trechos de rípio (um deles com uns 10 km) bem chatos, com camadas grossas de brita que faziam a moto rebolar. Com o vento era praticamente impossível andar em linha reta ou fazer curvas planejadas. Suei em bicas, mas não caí nenhuma vez!
Ficamos um tempão nas aduanas argentina e chilena (é muito papelzinho para ser carimbado) e depois ainda teve um túnel de 4,5 km (túnel Las Raices), bem estreito, de apenas uma pista.
No final do dia ainda pegamos uns 100 km de autoestrada (foram 531 km no total). A sorte é que, às 9h30 da noite, em Temuco, demos de cara um Holliday Inn Express, aqueles hoteis de rede americana maravilhosos (o Conrado tem até cartão fidelidade). Uma cama king size é tudo para dois motociclistas caindo aos pedaços.
[24—25 dez 2010] Puerto Montt
Chegamos a Puerto Montt e encontramos um hotel que ficava em cima de um shopping; nosso quarto ficava no décimo andar com vista para o oceano pacífico (não é mole não, a gente cruzou o continente). A cidade parece meio caótica, mas tem seu charme.
A gente estava tão cansado e o quarto do hotel tinha uma vista tão espetacular que decidimos ficar mais um dia. Aproveitamos para visitar o mercado público (pena que a maioria das lojas estava fechada por causa do feriado) e comer coisas gostosas. Aliás, enchi a cara de cerejas (adoro!).
[18 dez 2010] Florianópolis, São Borja
Saímos às 7 da matina de Floripa e os amigōes Cacá, Nina e Maciel caíram da cama em pleno sábado só para virem se despedir da gente e registrar a largada (sãos uns fofos mesmo; não sei se eu seria capaz de uma prova assim, ainda mais em época de festas…).
Depois de 883 km, deliciosamente exaustos, chegamos em São Borja. Minhas mãos de mulher fina já começaram a sentir a dureza da estrada (quebrei uma unha e comecei a desenvolver calos diversos), mas faz parte…rsrsrs
[19 dez 2010] São Borja, Paraná
Foram 620 km entre São Borja e a cidade de Paraná, na Argentina. Só que os últimos 400 km foram debaixo de uma chuva daquelas que molha muuuuuito!
Aliás, péssima ocasião para descobrir que as minhas botas nutrem um desejo secreto de ser uma piscina semi-olímpica, o que, no caso delas, é uma séria falha de caráter. Elas entraram na pousada fazendo ploft ploft, enquanto as do Conrado, que são da mesma marca e modelo, trouxeram os dedos dele sequinhos e felizes. Pôxa, que sacanagem… A gente chegou a fazer um filminho do balde que eu enchi com a água que tinha na bota (veja em vídeos).
Paraná e Santa Fé são cidades separadas por um túnel que passa por baixo do rio Paraná. Das outras vezes ficamos em Santa Fé, que é uma graça. Agora ficamos em Paraná e descobrimos que ela é ainda mais linda que a irmã. Tem parques enormes e maravilhosos à beira do rio, jardins muito bem cuidados, tudo muito caprichado. Uma das cidades argentinas mais lindas que já visitei.
Ficamos numa pousada linda, charmosa e barata chamada Posada del Rosedal (aqui na Argentina os preços estão ótimos!) que encontramos no trip advisor (o iPad está sendo uma mão na roda, pois ainda não chegamos perto de nenhuma lan house, apesar de estarmos apanhando um pouco para fazer as postagens…). É uma casa muito especial, com apenas três quartos muito caprichados: piso de madeira maciça, lençois bordados e cheirosos, tudo muito limpo e arejado. A D. Silvia, que cuida do lugar, é encantadora. Isso sem falar na Máxima, a cachorra mais doce e meiga que já vi. Recomendo muito!
Os peludos fofos e queridos dos postos de gasolina já começaram a aparecer. Aqui na pousada tem a Máxima, uma cachorra linda e simpaticíssima.
[03—04 jan 2011] San Antonio de Areco
O Conrado estudou mais atentamente os mapas e descobriu um lugar mais bacana para parar no caminho de volta em vez de Victoria, próxima de Rosario, como estava previsto. É uma cidade histórica chamada San Antonio de Areco, onde gastamos o dia reserva que tínhamos. Passamos duas noites lá, descansando.
San Antonio de Areco parece cenário de novela de época; as casas, os carros, os jardins, tudo parece bem antigo. De fato, essa é uma das primeiras cidades fundadas na Argentina, considerada o coração do Pampa.
O personagem principal aqui é o gaúcho, sempre cercado por cavalos e objetos de couro. Há muitos ateliers especializados em objetos de prata e, nos meses de novembro, há uma grande festa temática bem tradicional.
A gente deu umas voltas pela praça e arredores e deu sorte de ser ciceroneado por quatro perros muito simpáticos, que só desviavam um pouco a atenção quando tinham que cumprir seu ofício (latir freneticamente e correr para todo carro, moto ou bicicleta que passava).
Uma coisa que chamou atenção foi que a cidade é cheia de laranjeiras e todas estavam carregadíssimas de frutas maduras a ponto de apodrecerem no chão. Fartura de laranjas e perros amigos. Como não amar?
Os guias de viagem já tinham relatado o fenômeno e, se a gente for ver, é mesmo: San Antonio de Areco tem muitas casas pintadas de rosa. Deve ser para combinar com os lindos buquês de flores das azaleias que invadem a cidade nessa época do ano. Coisa linda de se ver!
Além disso, as casas aqui são numeradas de um jeito muito estiloso; as placas também têm o nome da rua (algumas, até o nome da família). Olha só uma amostra. Show, né?
[05—07 jan 2011] Santana do Livramento, Vacaria, Florianópolis
Passamos em Santana do Livramento para comer um churrasco com o amigo Nélio, mas depois já partimos para casa, que o elástico estava puxando forte.
Ano que vem tem mais, porém, com roteiros beeeem diferentes do que já fizemos até agora. Serão 10 anos de estrada e o mundo vai ficar maior. Aguardem e verão!!
[26 dez 2010] Ilha de Chiloé
A 65 km de Puert Montt fica a balsa que leva a Chiloé. A ilha é bem comprida; são 105 km para chegar até Castro, que é a capital, que fica mais ou menos no meio (a balsa atraca numa ponta).
Há várias cidadezinhas por toda a orla e absolutamente TODAS as casas são feitas de madeira (até mesmo a catedral e o quartel dos bombeiros!). São lindas, antiquíssimas e bem coloridas. A Villa San Antonio de Chacao, onde tiramos algumas fotos, foi fundada em 1567!
Em Castro, capital de Chiloé, para todo canto onde a gente olha tem rosas daquelas enormes e maravilhosas. Aqui, rosa é como capim, todo pedacinho de chão tem o seu quinhão (aliás, até onde me lembro, toda a região é assim, incluindo o lado argentino).
As palafitas são o orgulho local, tem até mirante com banquinhos para contemplá-las. E as casas, todas, são de madeira.
Um lugarzinho lindo, colorido e muito florido (até a estrada é idílica…). Para que mais?
[27—28 dez 2010] Puerto Varas
Puerto Varas é uma graça; praticamente uma rua à beira do belíssimo lago Llanquihué com vista para os vulcōes Osorno e Calbuco. Como todas as cidades na região dos lagos, as rosas são abundantes. Ficamos em um hotel na costanera (beiramar, ou, no caso, beira lago…) de onde dava para ver o lago e os vulcōes. Cenário de filme mesmo!
Ficamos sabendo que dava para subir o vulcão Osorno até um pedaço e levamos as duas motos para lá. Para minha felicidade, a estrada era toda asfaltada (sim, porque ninguém merece uma pirambeira empinada daquelas com pedrinhas soltas).
Chegando lá, ainda subimos até bem perto do topo por um teleférico e deu para dar uma caminhada por aquelas bandas (vista espetacular). Foi uma baita canseira, porque as botas e as roupas pesadas não são propriamente feitas para isso…
Na descida, visitamos a Laguna Esmeralda, que é uma cratera extinta e tem esse nome por causa da cor da água. Fica dentro de um parque protegido muito bem cuidado; encontramos até um zorrito, espécie de raposa bem pequena. Eu cheguei bem pertinho do bicho, que é um fofo…
[29—31 dez 201001] Villa La Angostura
Cruzamos os duzentos e poucos quilômetros entre Puerto Varas (Chile) e Villa La Angostura (Argentina) e a diferença foi brutal. Saímos com 12 graus de temperatura, muito vento e chuva; foi só atravessar a Cordilheira para ver o céu limpinho e experimentar 30 graus.
O Paso Cardenal Samoré é lindo e curvilíneo como todos, mas não é muito alto (menos de 1.400 m). O caminho é todo pontuado por lagos enormes e de um azul profundo.
Villa La Angostura, onde nos hospedamos, é bem parecida com Bariloche e San Martin de los Andes; casas de madeira em estilo alpino, lojas de chocolate e muitas flores. A gente queria uma pousada com vista para o lindíssimo lago Nahui Huapi e encontramos uma a 7 km do vilarejo, num bairro chamado Punta Manzano.
A hosteria é encravada na costa e quase desaparece em meio aos pinheiros; tem piscina aquecida com vista para o lago e a vista da janela do quarto é de tirar o fôlego. Assistimos uma tempestade de verão e foi lindo ver o lago mudar de cor várias vezes.
Dia 31, depois do café, pegamos um ônibus e fomos até o porto. O objetivo era pegar um barco para visitar (segundo eles) o único bosque de arrayanes do mundo. Arrayane é uma árvore da família das goiabeiras e jabuticabeiras que cresce muito devagar. O tronco se alarga apenas 1 mm por ano. No bosque, a média de idade das árvores era de 200 anos, mas havia exemplares de 650 anos!
O tronco é cor de canela, um amarelo escuro dourado. Quando a gente toca na árvore, dá para sentir que ela é bem fria, porque retém muita umidade para sobreviver. No final de janeiro, começa a florada (flores brancas) e depois de março vêm os frutos (imagino que deva ser parecido com uma jabuticaba). O bosque é muito lindo mesmo, digno de uma visita demorada.
[01—02 jan 2011] Neuquém — Santa Rosa
Atravessamos um pouco mais de 400 km de deserto escaldante entre a lindinha Villa La Angostura e a movimentada Neuquén. Depois ficamos sabendo que rolou um terremoto mais ao norte de onde estamos, mas lá estava tudo na mais santa imobilidade geológica.
Em Santa Rosa, ainda na Argentina,quando chegamos, vi que tinha uma plantação de girassois num campo próximo do hotel de beira de estrada e não resisti. Pena que tinha uma cerca que não deu para pular, então não tem nenhum close dessas flores lindas…