Nessa viagem, Lígia preferiu não ir porque não podia se ausentar do trabalho e também porque o roteiro previa quase 1.000 km em estradas não asfaltadas; foi preciso até trocar os pneus das motos para um melhor desempenho. Conrado foi numa BMW R1200GS Adventure e um amigo, Marcelo Loch, com uma Suzuki V-Strom DL1000. O percurso durou 12 dias.

O plano original era fazer os primeiros 850 km do novo traçado da Ruta 40 (de La Quiaca a Cafayate), passando por Susques e San Antônio de Los Cobres, além de cruzar a Abra del Acay. Também pretendíamos passar pelas margens do Dique Cabra Corral (um pouco ao sul de Salta) e visitar a Laguna de Pozuleos. Mas a temporada de chuvas deste ano foi mais longa e mais intensa do que o normal. Por conta disto, o roteiro mudou bastante, mas nem por isto ficou “menos bom”.

Outro objetivo era experimentar os pneus Metzeler Karoo (T). São pneus especiais para motocicletas Maxi-Trail com aro dianteiro de 19” e traseiro de 17” como a GS e a V-Strom, mas também servem para a Honda Varadero.

Os pneus são surpreendentemente bons no asfalto e simplesmente fantásticos na terra, lama, areia fofa e brita (ou rípio, como dizem os argentinos). Penso que com pneus normais não teríamos passado por alguns dos lugares por onde passamos.

Única desvantagem é o elevado desgaste: tivemos que “segurar a mão” em 100 km/h durante todo o trajeto em asfalto. Mesmo assim, os pneus não duram mais do que 6.000 km.

Ruta 40 entre Cachi e Cafayate, Argentina • fevereiro 2009

2009 • Laguna Pozuelos


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[21—22 fev 2009] Florianópolis, São Miguel do Oeste, Machagai 

Viajamos a 120 km/h durante todos os 600 km do primeiro dia, controlando os pneus para ver se seria possível manter este ritmo.

No segundo dia, atravessando as províncias argentinas de Missiones e Corrientes, a temperatura bateu em 37 °C e o desgaste começou a ser visível. Decidimos baixar a velocidade para 100 km/h pelo restante da viagem.

Dormimos em Machagai, num hotel de beira de estrada uns 100 km depois de Corrientes. Como era domingo de carnaval, não havia comida no hotel. Tivemos que comer em pé, encostados no balcão de uma padaria ...


[23 fev 2009] Salta 

Quem vai a Salta tem dois caminhos para seguir depois de passar pela Pampa del Infierno. Ou pega a auto-estrada que liga San Miguel de Tucumán a San Salvador de Jujuy, ou pega uma ruta provincial que contorna toda a margem sul do Dique Cabra Corral.

O techo inclui uns 60 km de terra. Optamos por este caminho, não só pela beleza (eu já conhecia o trecho da viagem que fiz com Lígia no final de 2008), mas também para ver como as motos se comportavam com os Karoos. Tinha chovido nos dias anteriores e a estrada era cortada em vários pontos pela água que descia forte dos morros. Também muitos trechos estavam bem enlameados.

Os pneus foram sensacionais: em nenhum momento aquela sensação de “m••da, no que é que eu fui me meter”.


[24 fev 2009] Humahuaca 

Na parte da manhã, Marcelo foi trocar o óleo da V-Strom enquanto eu, preocupado com o desgaste dos Karoos fui procurar uma loja de pneus para ter como “carta na manga” no caso de ser necessário trocá-los para a volta ao Brasil.

Depois visitamos o Museo de Arqueologia de Alta Montaña. A peça central do museu é a múmia de uma menina de 14 anos, sacrificada e enterrada pelos Incas junto com outras duas crianças num dos cumes da Cordilheira dos Andes. Os três são conhecidos como Los Niños del Llullaillaco. O frio e o ar extremamente seco preservaram-na de uma forma surpreendente: pele, cabelo, roupas estão intactas. Achei meio macabro, mas fiquei profundamente impressionado. Recomendo para qualquer pessoa que for a Salta. O museu também vale pelas fotos e pelo relato das expedições arqueológicas aos túmulos incas. Infelizmente, o museu não permite fotos, nem mesmo sem flash.

Depois fizemos um lanche num Empório de frios e vinhos na Calle España, a uma quadra da catedral. Pena não poder trazer uma peça daquele presunto crú para casa ...

Saímos no meio da tarde com destino a Humahuaca. A temperatura caiu bastante à medida que fomos subindo a Quebrada com o mesmo nome. No final da tarde eram 12 °C, uma diferença significativa dos 30 °C em Salta.

Como era terça-feira de carnaval tivemos oportunidade de assistir a um carnaval diferente: alguns blocos pareciam mais uma passeata do movimento dos sem-terra boliviano, partidários do Evo Morales. Para completar, cada família faz sua própria bebida, todas elas alguma variação de amendoim ou milho colocados a fermentar mergulhados em água. Depois de alguns dias a gororoba é coada num pano e o caldo servido aos incautos transeuntes. Eu provei e não gostei. O Marcelo, sabiamente, não quis nem provar.

Teste rápido para verificar se você é um leitor atento: com quantos “l” se escreve “Llullaillaco” ?


[25 fev 2009] Laguna de Pozuelos e La Quiaca 

Saímos cedo para fazer o primeiro trecho “sério” da viagem: 100 km de estrada de terra até o Monumento Nacional Laguna de Pozuelos, uma extensão respeitável de água localizada numa depressão do altiplano, a 3.500 m de altitude. A Laguna é famosa pela grande colônia de flamingos, patos e uma dúzia de outras aves, complementada por rebanhos de guanacos.

A estrada para lá passa cruza inúmeros rios, alguns secos, outros nem tanto. A temperatura caiu para uns 6 a 8 °C, encontramos gelo em alguns trechos da estrada. Os últimos 7 km para a Laguna são areia alternada com lama pura. Sem os Karoo, não teríamos passado.


Depois da Laguna seguimos por Cieneguillas em direção a La Quiaca.

La Quiaca faz fronteira com Bolívia, dali são apenas 5.121 km até Ushuaia. A cidade tem aquele jeito típico de cidade de fronteira, exacerbado pelo fato de ser fronteira com a Bolívia. Só vale a pena ir para dizer que foi ...


[26 fev 2009] San Salvador de Jujuy 

Choveu forte por quase toda a noite e várias pessoas nos desaconselharam a seguir o roteiro originalmente planejado: 340 km em estradas de terra, sempre acima de 3.500 m por Santa Catalina em direção a Susques.

Resolvemos ouvir os conselhos e descemos a Quebrada de Humahuaca em direção a San Salvador de Jujuy onde pernoitamos (notar a omissão do termo mais coloquial “dormimos”) numa espelunca que nos tinha sido recomendada com a maior boa vontade por um casal de argentinos que conhecemos em La Quiaca e que viajava numa Falcon.

No caminho passamos pelas Termas de Reyes, um hotel com águas térmicas situado no fundo de um vale. Deve ser legal se hospedar ali ...


[27 fev 2009] Cuesta del Obispo e Cachi

Como o roteiro inicial tinha ido literalmente “por água abaixo”, resolvemos subir a Cuesta del Obispo, cruzar o Parque Nacional Los Cardones e retomar nosso plano original na pitoresca localidade de Cachí.


[28 fev 2009] Quebrada de Las Flechas e Cafayate

De volta à Ruta 40, seguimos por 170 km de terra a Cafayate, passando pela Quebrada de Las Flechas. Na minha opinião, o trecho mais bonito da viagem. Tínhamos sido advertidos quanto ao estado da estrada e ao perigo que eram “los porteños en sús 4x4”, mas o trecho foi super-tranqüilo.


[01—04 mar 2009] Santiago del Estero, Corrientes, Passo Fundo, Florianópolis

Depois de Cachí começamos a voltar para casa, onde chegamos depois de mais 2.500 km, com os pneus completamente detonados.

Viagens

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