Nessas férias tínhamos um pouco mais de 20 dias e resolvemos conhecer o Glaciar Perito Moreno, lá no sul da Patagônia Argentina e no caminho tivemos surpresas muito bacanas. O Conrado foi de BMW R1200GS Adventure e eu de BMW F650GS. Vem com a gente se encantar!

2009 • El Calafate


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Glaciar Perito Moreno, Argentina • dezembro 2009

Jaguarão é uma cidade histórica que merecia pelo menos um dia para ser fotografada com calma. Tem um centro histórico com prédios lindos e bem preservados. Levamos um susto, pois nunca tínhamos nos hospedado aqui e não tínhamos ideia que precisava de reserva. Tivemos a sorte de pegar o último quarto vago (de frente para o pagodão na praça principal) porque sujeito que tinha reservado ficou com medo da chuva e não veio). Perguntei se estava rolando algum evento no local e o moço falou que todo final de semana era assim por causa da zona franca na fronteira. Os sacoleiros dominam o pedaço e fim de papo.

A gente precisou sair cedo, então não foi dessa vez que Jaguarão teve o registro fotográfico que merecia…


[13 dez 2009] Uruguai

Hoje o dia acordou iluminado e, como não tínhamos coisa melhor a fazer, resolvemos cruzar o Uruguai de norte a sul (já tínhamos feito leste a oeste em outra viagem).

A única palavra que tenho para descrever esse país é repousante. As estradas são excelentes, bem sinalizadas e o melhor de tudo, completamente VAZIAS (deve ser por isso que as estradas são tao perfeitas, ninguém estraga). A cada 40 minutos passa um Chevette ou Passat bem velhinho andando a 50 km/h. De resto, só a paisagem bucólica, o relevo discreto e o vento geladinho. De carro talvez seja um pouco chato,  mas esse lugar é o paraíso para quem gosta de pilotar.

Como a gente sabia que só ia ver comida lá pelas 10 da noite (no Uruguai os restaurantes abrem tarde, como na Argentina), abrimos uma exceção e almoçamos no caminho. Geralmente comemos apenas lanches para não pesar e não perder muito tempo,  mas dessa vez a fome era muita mesmo. E estava uma delícia!

Que peninha que a gente vai ter que dormir cedo porque temos que estar no porto às 4h30 da matina para pegar o buquebus para Buenos Aires. Adoro Colônia de Sacramento, essa cidade é tudo. Pelo menos vamos jantar no El Drugstore, nosso restaurante favorito. Quem não conhece, dá uma olhada na viagem que fizemos ao Uruguai em 2006.


[14 dez 2009] Buquebus e Bahia Blanca

Acordamos às 4 da matina para carregar as motos, abastecê-las e pegar o buquebus às 6 horas. O trajeto dura 3 horas (tinha um mais rápido, de uma hora só, mas saía de Colônia de Sacramento somente às 11h30 e ainda tínhamos que rodar 640 km até Bahia Blanca).

O buquebus é uma mistura de balsa, navio e avião que cruza o Rio da Prata (divisa entre Uruguai e Argentina) diariamente. Os horários não batem muito (quando chegamos, a informação que tínhamos era que o rápido saía às 9h30 segundo o site da empresa, completamente furado). Então, tem que olhar no dia mesmo. O rápido é mais caro e cada moto paga separado. Mas o preço também não bate muito bem, pois tivemos que ir de primeira classe (sorry) porque os lugares na classe turística tinham se esgotado. De qualquer maneira, a diferença não era tanta, mas, entre passagens para nós e para as motos foram U$ 246,00 (eles aceitam Mastercard e Visa).

A gente precisa chegar no embarque pelo menos uma hora antes para fazer o check-in, embarcar as motos e fazer papelada da imigração. Apesar do sono e do cansaço, eu achei bem bacaninha…

Colocamos as rodas em Buenos Aires às 9h30 depois de passar pela aduana e desembarcar as motos na manhã de uma segunda-feira, o que significa caos no trânsito. Na verdade, como aqui o fuso é uma hora para menos, eram 8h30 no horário local, bem na hora do rush matinal.

Acho que cada uma das ruas de Buenos Aires têm pelo menos 4 pistas, todas devidamente preenchidas por veículos de tamanhos, formatos, usos e idades diversas, mas com a mesma pressa em comum rumo a cruzamentos complicados. Para se ter uma ideia, são duas praças de pedágio com 20 guichês cada dentro do perímetro urbano! Uma verdadeira loucura! Não sei  como teríamos saído de lá e achado a estrada certa sem o Conrado e seu infalível GPS. Era quase meio dia quando chegamos finalmente na estrada para Bahia Blanca, nosso próximo destino.

A estrada era boa e o dia estava lindo, apesar do movimento intenso de caminhões, mas deu tudo certinho (nossos anjos da guarda adoram uma garupa). Encontramos perros fofos nos postos de gasolina e exóticas parrillas na beira da estrada.

Chegamos cansadíssimos, mas jantamos como reis (dica preciosa do Cacá, restaurante Pavarotti, valeu mesmo!).

Bahia Blanca é relativamente grande e parece rica (aqui funcionou o quartel general da marinha Argentina na Guerra das Malvinas). Não deu para conhecer muito, mas vimos um monte de lugares bacanas para comer (parece que a gente só pensa nisso, mas pilotar dá muita fome).


[17 dez 2009] Rumo a Puerto Deseado

Agora começou realmente a parte inédita da viagem, por trechos que ainda não havíamos passado antes.

Rodamos mais 735 km, de Puerto Madryn a Puerto Deseado. Nossa, foi punk mesmo. Primeiro saímos de Puerto Madryn com um céu querendo muito chover pesado. Novamente as curvas amigas nos desviaram das nuvens sinistras.

No trecho entre Puerto Madryn e Comodoro Rivadavia, uma das maiores cidades patagônicas, o movimento de carros e caminhões foi maior que eu esperava. Aliás, a estrada passa por dentro de Comodoro, que é bem grande. A gente atravessa algumas avenidas, bairros, rotatórias, trevos e quase se perde para voltar à estrada. Em Caleta Olivia foi a mesma coisa, parece que eles fazem de propósito para a pessoa se perder na cidade e não seguir adiante. Boa parte do caminho contorna a costa atlântica, então tem uns visuais de perder o fôlego de tão lindos.

A estrada tem trechos bons e outros nem tanto, mas o mais notável é o vento. Gente, o que era aquele vento?

De manhã ele começa normal, como um vento forte, porém civilizado. Mas conforme o dia vai avançando, ele vai ficando mais e mais nervoso, até que lá pelas 5 da tarde as forças eólicas partem para a ignorância e o negócio fica intratável. Acho que a única diferença entre esse vento e um furacão é que esse não faz curva, é sempre reto e de lado (infelizmente, sempre do mesmo lado); mas o mau humor é igualzinho. A gente tem que fazer uma força descomunal para manter a cabeça em cima do pescoço, fica exaurido com o exercício.

Os últimos 120 km foram os mais difíceis. Além de já estarmos bem cansados (na verdade, caindo aos pedaços), aquele vento malcriado virou de repente e ficou de frente, com toda a força. Parecia que o capacete ia entrar cabeça adentro (os óculos chegaram a machucar um pouco). Além disso, a temperatura que estava em 28°C (segundo o termômetro da moto), passou a 12°C em menos de uma hora (quase congelamos). Também teve um pouco de chuva e um desvio em estrada de terra por causa de obras de manutenção. Não dá para dizer de jeito nenhum que foi um tédio…

Mas olha só o cenário que nos esperava em Puerto Deseado. Precisa dizer que valeu a pena?


[15—18 dez 2009] Puerto Madryn

Hoje completamos 2.700 km de estrada e chegamos a Puerto Madryn, na Patagônia. A estrada estava ótima, o dia belíssimo e a temperatura perfeita (uns 20º). Nuvens de chuva nos espreitaram por toda a estrada, mas curvas amigas impediram nosso encontro com elas.

A gente já conhecia a cidade de outra viagem, é muito lindinha mesmo.  Fico impressionada com a luz e a cor da água. Como o câmbio está nos favorecendo, pegamos um hotelzinho charmoso de frente para o mar por meros R$ 80,00 (menos que um Íbis).

Aliás, a gasolina na Argentina, na região de Buenos Aires está o equivalente a R$ 1,80. Só que na Patagônia, por causa das distâncias enormes, o combustível é subsidiado. O resultado é que estamos pagando mais ou menos R$ 1,10 o litro por aqui. Bom, né?

A outra coisa a se observar é que a polícia está super bem comportada e não fomos extorquidos nenhuma vez, como era comum nos outros anos. O controle fitosanitário está bem rigoroso, passamos por vários postos de fiscalização e em dois deles tivemos que abrir a bagagem para mostrar que não trazíamos vegetais ou comida (esse cuidado todo é por causa da febre aftosa).

Fizemos uma assembleia extraordinária durante o jantar (magnífico!) e definimos que vamos ficar mais um dia em Puerto Madryn para recarregar as baterias e aproveitar um pouco mais esse lugar tão lindo…

Puerto Madryn é uma delícia! Daqui há vários passeios interessantes para a Península Valdés e Punta Tombo, mas como já fizemos esses e estávamos muito cansados, resolvemos vagabundear por um dia inteiro. Os jantares pantagruélicos continuaram (teve um dia que rolou até espumante em homenagem ao nosso amigo Neander que é fã da bebida). O câmbio está realmente nos ajudando na vida buena…


[17—19 dez 2009] Puerto Deseado

A ría é uma das formas que podem ter a desembocadura de um rio, quando o mar entra pela costa por dentro de um rio de tal maneira que ele fica sujeito às marés. Na América do Sul, a Ría Deseado (onde estamos) é a única que existe.

Então, Puerto Deseado fica na desembocadura do Rio Deseado, formando a tal ría (o mar avança 40 km rio adentro). Nesses lugares, a fauna é riquíssima: tem lobos marinhos, pinguins, pássaros de tudo quanto é tipo e até golfinhos. Charles Darwin e o capitão do Beagle, Fitz Roy, ficaram tão fascinados que subiram rio acima até as cordilheiras.

O lugar tem esse nome porque o primeiro navio inglês que aportou aqui se chamava Desire. Não é poético? 

No dia da chegada jantamos maravilhosamente bem de novo (acho que nunca comemos tão bem numa viagem) no Restaurante El Pinguino. A temperatura estava 10°C e chovia a cântaros. O dia seguinte amanheceu lindíssimo (nosso quarto tem vista para a Ría; essa viagem está um luxo só…) e a temperatura agora, perto do meio-dia, está uns 14°C.

De manhã demos umas voltas por umas estradinhas que costeavam o rio e à tarde vamos fazer um passeio de barco pela ría para ver os bichos (vamos com a Darwin Expediciones). Uma curiosidade é que notamos que as pessoas conversavam pouco com a gente nos lugares; então descobrimos que todo mundo, desde que a gente chegou na Argentina, jura que somos alemães…


[18 dez 2009] Passeio pela Ria

Hoje foi um dia para ficar na história, de tão lindo. Passeamos pela Ría Deseado na paz, sem multidões e com o tempo maravilhoso. Só estávamos nós e um casal de austríacos muito simpático (não aparecem muitos brasileiros por aqui, em compensação está cheio de europeus).

Primeiro passamos por encostas cheias de ninhos de cormorans do tipo gris e roquero. Depois vimos lobos do mar e golfinhos lindos (bem difíceis de fotografar, mas consegui fazer um filminho bem rápido). Para terminar, a Isla de los Pájaros, onde pudemos caminhar no meio dos pinguins como em Punta Tombo, com a diferença fundamental de que não estávamos acompanhados por uma horda de turistas (faz bastante diferença; os animais ficam muito menos estressados e a gente pode caminhar bem devagarinho ao lado deles sem assustá-los). Éramos somente 6 pessoas na ilha toda. Parecia um Animal Planet (que eu adoro) ao vivo em alta definição, coisa de emocionar mesmo. Não fosse por todos os motivos, só o dia de hoje já teria valido os 3.500 km que rodamos até aqui.

E amanhã tem mais: vamos fazer um passeio de dia inteiro na Isla Pinguino, onde vivem os Pinguins de penacho amarelo, raros e descabelados. Esse é um dos poucos lugares do mundo onde podem ser avistados fora da Antártida.


[19 dez 2009] Isla Pinguino

Nossa, o dia de ontem foi o que se pode chamar de ANIMAL! Mas também de sensacional, fantástico, incrível, inesquecível. A visita à Isla Pinguino fez o passeio pela ría, feito no dia anterior, parecer excursão de escola primária. Nesse passeio, que durou o dia todo, eu me senti como se estivesse numa missão da National Geographic, tendo acesso a lugares da natureza muito privilegiados que só poucas pessoas conhecem e podem visitar.

Éramos apenas 8 visitantes (mais os dois tripulantes) no barco e fomos para a boca da Ría, onde o Rio Deseado encontra o mar. Lá passamos por uma ilha de rochas repleta de famílias de lobos marinhos (machos e seus haréns de fêmeas com seus filhotes). Descobrimos que os machos raptam fêmeas para formar um harém e nem todos os filhos da família são do maioral. As fêmeas ficam apenas 19 dias por ano sem estar grávidas e precisam cuidar dos seus filhotes, uma vez que os machos estão apenas interessados em manter e aumentar seus haréns.

No passeio do dia anterior eram duas ou 3 famílias. Aqui eram dezenas, e a gente pôde ficar bem pertinho. Depois passamos pela Isla Chata, onde está a maior colônia de cormorans imperiais que se tem notícia. A ilha é mesmo impressionante. O roteiro previa apenas o contorno, mas como o dia estava perfeito, sem nuvens e sem vento, ganhamos um desembarque e uma visita. É inacreditável a quantidade de pássaros, nunca tinha visto nada parecido, nem em filmes.

Por fim, o objetivo final do passeio: a Isla Pinguino. Passamos umas 4 horas andando por ela, e o que se pode dizer é que onde nas outras ilhas têm capim, aqui tem pinguins. A gente tem que caminhar bem devagar, pois há ninhos deles por toda parte. Há também filhotes de um outro pássaro enorme (Escúa ou Skua), que come filhotes de pinguins (é seu maior predador).

Ainda vimos, na ilha, uma colônia de lobos marinhos solteiros, que naão conseguiram roubar nenhuma fêmea dos outros haréns e por isso são exilados, junto com os velhos aposentados que não têm mais condições de manter suas fêmeas em segurança.

Mas o melhor mesmo ficou para o final: a visita à colônia dos Pinguins de penacho amarelo, uma das poucas fora da Antártida. O bichinho é tão estiloso que faz até pose para tirar fotos. Como recebem pouquíssimas visitas, são muito curiosos e chegam bem pertinho da gente (dá até vontade de pegar no colo).

No almoço (sanduíches e sucos numa clareira improvisada), um dos guias sacou de sua mochila uma cuia de chimarrão e preparou o mate ali mesmo. Os estrangeiros todos ficaram muito curiosos (nunca tinham visto), mas todo mundo tomou o mate para experimentar. No final, um holandês muito espirituoso disse que aquilo estava parecendo uma rodinha de baseado e que o mate devia ser muito forte mesmo, pois ele estava vendo pinguins por toda parte.

Para completar, na volta ainda fomos seguidos por 5 golfinhos (eles chamam de toninas) que ficaram fazendo graça em volta do barco.

Um dia para lembrar, o dia em que fui uma exploradora da National Geographic, bem como eu tinha imaginado quando era pequena…


[11—12 dez 2009] Florianópolis, Torres, Jaguarão 

Já no primeiro dia fizemos a segunda pior parte do trajeto (a pior é o mesmo trecho, só que no sentido inverso), que é a BR-101 sul. Gente, essa estrada é uma palhaçada — se eu fosse presidente morreria de vergonha (mas ele não tem vergonha de outras coisas piores, não é mesmo?).

A última vez que passamos por aqui faz us 3 anos (eu ainda estava de Falcon). O que posso dizer é que a única diferença é que agora tem pedágio. Mas os desvios continuam os mesmos (cerca de 41 que eu contei daquela vez — não deve ter diminuído); é como se um bicho-preguiça estivesse administrando a obra tocada por caramujos…

De Torres rodamos mais uns 570 km até Jaguarão e recomeçamos a corrida com obstáculos… saímos cedinho, mas o primeiro trecho não rendeu muito. É que os caramujos gaúchos são mais caprichosos; eles se deram ao requinte de instalar lombadas monumentais ao longo de todos os desvios esburacados, inclusive bem no meio das curvas. O efeito fica sensacional quando você está atrás de 10 caminhões (e na frente de outros 15).

Depois veio a Freeway e foi um bálsamo para os pneus, só que nos outros 350 km até Jaguarão o pacote foi completo: as estradas estavam ótimas, mas fomos açoitados vigorosamente por ventos musculosos acompanhado de uma chuva magrinha, mas competente. Fiquei tão cansada que a sensação é que passei o dia todo descarregando caixas de melancia no Ceasa… depois a gente só ficou esperando o restaurante do hotel abrir para devorar qualquer coisa que tivesse lá!!  É o melhor cansaço que se pode sentir, daqueles que a gente tinha quando era criança e ficava exausto de brincar o dia inteiro. Delícia essa vida de viajante…

Clique no mapa para usar os recursos do Google Maps


[20 dez 2009] Puerto San Julián

Hoje, dia 20, rodamos 390 km de Puerto Deseado a Puerto San Julián. Aquele furacão linear nosso conhecido nos acompanhou por um bom pedaço, mas eu estava com meu colete térmico (santa invenção) e foi tranquilo. Recomendo para pessoas friorentas, é uma delícia. Também vimos famílias completas de avestruzes e guanacos (liiindos!) na estrada. Para quem adora bichos, como eu, isso aqui é o paraíso!

Puerto San Julián é bem pequeno, mas foi aqui que a Patagônia foi batizada pelo explorador Fernão de Magalhães quando estava realizando a sua lendária viagem de circunavegação.

Quando ele aportou em San Julián (tem uma réplica da caravela que o trouxe; é minúscula. O cara era mesmo muito corajoso), encontrou os nativos que eram altíssimos e tinham pés enormes para os padrões europeus. Por isso, Magalhães os chamou de patgon, que significa “pés grandes“. Pena que os nativos foram todos exterminados, pois eles se vestiam com peles de guanacos e comiam a sua carne. Quando os galeses, primeiros imigrantes, comecaram a criar ovelhas por aqui, eles acharam ótima a carne do “guanaco branco” que era muito mais fácil de caçar, pois corria pouco. O resultado é não sobrou nenhum pé grande para contar a história.

Pena que não deu para explorar muito o local, pois choveu bastante.


[21 dez 2009] Rio Gallegos

Hoje rodamos mais 365 km (moleza!) e o tempo estava perfeito se não fosse o furacão linear, aquele nosso conhecido muito chato. Mas vimos um montão de guanacos, acho que centenas deles. Sao bichos lindíssimos, elegantes e muito curiosos.

Pena que é difícil fotografá-los, pois são muito ariscos. Vários cruzaram na minha frente (pena que nem todos os motoristas estão atentos e vi vários mortos na estrada; é de dar pena). Mas meus olhos sao treinadíssimos porque fico procurando esses lindos pelo caminho. Eles são maravilhosos, é como se fossem veadinhos sem a galhada, todos da cor do Haroldo.

Agora estamos em Rio Gallegos, a última cidade lá no “rabinho” do continente antes do Estreito de Magalhães que leva à Terra do Fogo (para onde não iremos dessa vez).

Rio Gallegos é a capital da Província de Santa Cruz e uma das maiores cidades da Patagônia. Tem um comércio bem desenvolvido e tomamos um café muito esperto ainda há pouco. Também compramos cerejas para comer depois, estão com uma cara ótima. O Conrado trocou o pneu traseiro da minha moto (as oficinas estão cheias de gringos que mandam as motos de avião ou navio para passear por aqui) que não iria sobreviver ao trecho de volta, conforme ele já tinha previsto.

Amanhã chegamos a El Calafate para ver os glaciares, estou curiosa para ver. Vamos ficar lá até o natal e depois começamos o caminho de volta, que é bem comprido.


[22—25 dez 2009] El Calafate

Chegamos dia 22 aqui em El Calafate, uma cidade lindinha (lembra muito Bariloche). Mesmo cansados de apanhar do nosso velho conhecido furacão linear e passado bastante frio (a moto marcava 10ºC, mas por causa do vento, a sensação térmica era de muito menos e nem meu colete térmico mais o X-Power deram conta), não conseguimos nos conter e fomos direto ao Glaciar Perito Moreno, que fica 80 km depois da cidade. Pena que o tempo estava (e continua) nublado, mas a vista é impressionante. É muuuito gelo se derramando para o Lago Argentino, que tem uma cor indescritível, como só os lagos de geleira conseguem.

Esse foi o único lugar onde reservamos hotel porque sabemos que Natal e Ano Novo são datas problemáticas para chegar em lugares turísticos sem avisar antes. Eu tinha mandado e-mails para um montão de hoteis e os que responderam (a maioria não deu notícias até hoje) estavam lotados. Por sorte conseguimos o Edenia, que é fora da cidade, numa ponta isolada da baía de onde dá para ver El Calafate que é, na bem da verdade, um lugarejo. De hora em hora o hotel tem uma van que vai e volta do “pueblo“, de maneira que a distância não é problema e acaba sendo é ótimo por causa da vista. Além do mais, é um baita hotelzão, com banheira e cama king size. Não está sendo muito barato (U$ 110/dia), mas considerando os preços daqui, que são bem altos, está ótimo. Aliás, quanto mais a gente desce, mais os preços aumentam.

Outra coisa que observei é que a esmagadora maioria dos hoteis não tem garagem (claro, os turistas todos chegam de avião, isso aqui é o fim do mundo). O nosso também não tem, mas como está isolado, nossas queridas máquinas ficam seguras no estacionamento em frente. Falta de garagem é um problema sério para quem viaja de moto.

Amanhã vamos fazer um mini-trekking pelo glaciar e vamos andar por cima do gelo com aqueles grampos especiais que se coloca no sapato e à noite vai ter a ceia de natal especial no hotel (do jeito que chegaremos famintos, vai ser delicioso, seja lá o que servirem).

A única coisa realmente chata por aqui é que a Internet mais rápida tem 256 KBps, ou seja, leeeenta…



[26—28 dez 2009] Comandante Luis Piedrabuena, Caleta Olivia e Puerto Madryn

Dia 26 a gente saiu de El Calafate com um dia lindo, mas pegamos 4,5 ºC na estrada. Escapamos de virar picolé porque o vento estava a favor (delícia) nos primeiros 200 km. Quando a malcriação eólica começou, a temperatura já tinha atingido escaldantes 11ºC, de maneira que chegamos mais ou menos inteiros.

No único posto de gasolina do caminho, a 160 km de El Calafate, na isolada localidade de La Esperanza, conversamos com um morador que nos contou que lá faz 25ºC negativos no inverno, com picos de 38ºC abaixo de zero! Por isso, naquela região não dá para plantar nada, e o único bicho que dá para criar é ovelha (deve ser porque elas já vêm com casaco).

Foram menos 485 km longe de casa e ficamos num hotelzinho inesperadamente charmoso numa cidade chamada Comandante Luis Piedrabuena.

Dia 27 rodamos mais 470 km até Caleta Olívia, à beira do mar. Aquele vento conhecido continuou malcriado, mas quanto mais a gente sobe, mais a temperatura aumenta (já chegou a 16 ºC), o que compensa um pouco o desconforto.

No caminho, num posto em Tres Cerros, encontramos uma cena insólita: um cachorro que cuidava com muito zelo de uma gatinha filhote. Ela usava coleira e, pesquisando um pouco, descobri que o dono do posto a tinha recém adotado (na ida passamos pelo mesmo lugar e ela não estava), pois tinham “esquecido” a fofa no local. Ele explicou que o cachorro, também do posto, tinha sido adotado na mesma situação; alguém o “esqueceu” lá. A gatinha parecia cega (ou enxergava pouco, o dono do posto disse que ia levá-la ao veterinário) e o cachorro tinha uma patinha amputada. Dois queridos que tiveram a sorte de encontrar um homem bom no caminho.

Saímos de Caleta Olivia com 10ºC de temperatura e chegamos em Puerto Madryn com 25ºC; entre uma coisa e outra, aconteceu de tudo. A temperatura subiu, desceu, o vento virou de todos os lados, ficou forte, muito forte e fortíssimo; desviamos de várias nuvens ameaçadoras, enfim, ninguém reclamou de tédio.


[29 dez 2009 — 2 jan 2010] Tornquist, Victoria, Uruguaiana, Vacaria e Florianópolis

A saudade vai apertando e a gente quer mais é voltar correndo para casa. Pois refizemos de novo os planos para conseguir chegar no sábado, em vez de domingo, como era o plano original. Dia 29 rodamos 730 km e dormimos em Tornquist, uma cidadezinha linda e pacata, com um bosque enorme servindo de praça central. 

Dia 30, depois de longos 845 km, paramos em Victoria, 80 km depois de Rosario. Só vimos Rosario en passant, mas já deu para ver que é linda e enorme (ruim para duas motos), com trânsito, viadutos e vias expressas dignas de cidade grande.

Victoria é bem bonitinha, mas a atração principal é um cassino que mais parece um resort completo às margens do Rio Paraná. Em resumo: agora enfiamos o pé na jaca com muito mais vontade. O restaurante do hotel é maravilhoso e o quarto (pegamos o mais simplinho) é sensacional. Delícia para quem está caindo aos pedaços.

Passamos o reveillon em Uruguaiana (no ano passado comemos umas empanadas com coca-cola numa padaria antes de desmaiar de cansaço; esse ano pudemos contar com uma Mumm pequena que a gente ganhou de natal no hotel Edenia para acompanhar o delicioso bife a cavalo).

Dormimos a primeira noite do ano em Vacaria (a gente já tem até desconto no hotel de lá) e sábado, dia 2, já estávamos afofando os gatículos em casa.

Foi uma viagem ótima, inesquecível e maravilhosa. Nossos anjos da guarda foram tão cuidadosos que não passamos por nenhum aperto ou susto na estrada, só deslumbre mesmo. Para onde será que iremos no ano que vem?

[24 dez 2009] Caminhando sobre o gelo

Nossa, que experiência inesquecível a de ontem. Primeiro a gente pegou um ônibus cheio de gringos para ir até o Glaciar (são 80 km além da cidade). Os passeios são organizados pela agência Hielo & Aventura que detém a concessão de passeios ao Perito Moreno e adjacências. Os passeios não são baratos (como, de resto, nada por aqui), e esse que fizemos, o mini-trekking, que leva o dia todo, custa mais ou menos R$ 260/pessoa, mas vale cada centavo (nessa viagem a gente está enfiando o pé na jaca com vontade…eeheheh).

É impressionante a organização. Eles combinam com o hotel e sincronizam as vans com o ônibus, de modo que ninguém fica esperando em lugar nenhum; e olha que são dezenas de hoteis e centenas de gringos, uma verdadeira babel. Mesmo assim, ninguém se perde e tudo funciona. Turismo profissional é isso.

Primeiro a gente foi até as passarelas do Glaciar, onde se fica de boca para o gol. Tivemos 2,5 horas para apreciar a paisagem, tirar fotos e comer a vianda (lanche) que tínhamos levado. Como todo mundo tem que levar lanche, o que mais se vê é gente indo ao mercadinho e comprando víveres (eu fui também). Chegando lá, surpresa: a prefeitura proibiu o uso de sacolas plásticas (VIVA!!!) e todo mundo sai com uma caixinha de papelão na mão, dessas reutilizadas de embalagens no atacado, com tudo organizado dentro. Se o mundo todo proibisse o uso das tais sacolinhas, boa parte do problema do lixo estaria bem encaminhado. No caminho vi lixo plástico por toda parte, mesmo nos lugares mais bonitos de Puerto Deseado.

A grande brincadeira de ficar observando o Glaciar é presenciar a queda de um pedaço. A gente ouve estrondos de gelo rachando o tempo todo e fica esperando acontecer alguma coisa na beirada. Dá para ficar um dia inteiro olhando, é hipnótico! Às vezes não cai nada, às vezes só um pedacinho, mas as vezes, quando cai uma lasca maior, é um espetáculo. Chega a fazer ondas bem grandes no lago, dependendo do tamanho do naco e altura da queda.

Finda a contemplação, fomos de ônibus para a beira do lago, onde encontramos o barco que nos levaria até a outra margem. Chegando lá, caminhamos até o que eles chamam de refúgio (uma casa de madeira no meio de um bosque que serve de base para trekkers), onde descansamos um pouco e recebemos explicações sobre aquela montanha gigantesca de gelo, que, na verdade, é um rio congelado que vai transbordando quando “chove” neve na cordilheira. No verão (6 a 13 graus aqui), os pedaços vão se desprendendo e a gente assiste ao show, encantado.

Para o final ficou a parte mais fantástica, a caminhada sobre o Glaciar. Os guias amarram uma espécie de sandália com grampos na sola para a gente poder caminhar sobre o gelo, que é duro e escorregadio (bem diferente daquele que cobria o Vulcão Villa Rica em Pucon, no Chile, que era fofo a ponto da gente voltar escorregando como tobogan montanha abaixo).

Os grampos são o único jeito de andar por lá e funcionam mesmo. Num instantinho a gente se acostuma. Há sempre um guia por grupo de 20 pessoas que vai mostrando o caminho. Os buracos são incríveis e há vários lagos pequenos com água congelada. Cansa um pouco, mas como são apenas 2 horas de caminhada, ninguém morre por causa disso.

E, chegando perto do ponto de partida, El gran finale: eles montam uma mesa de madeira (deve ser bem pesada) bem em cima do Glaciar e servem uísque com o gelo de lá (aquela piadinha do uisque de 510 anos — 500 que é o tempo que leva para um gelo sair da cordilheira e chegar até o Perito Moreno; e 10 do uísque).

Depois, foi pegar o barco de volta, o ônibus e a van para o hotel (antes devolvemos uma mochila e as luvas que tínhamos alugado para a ocasião; aqui tem tudo!).

Para completar o dia perfeito, às 21h30 saboreamos a ceia especial de natal (cada hóspede podia jantar na hora que quisesse, só o cardápio é que era especial) com aquelas frescuras que eu adoro: entrada minúscula de canapé com maçã e queijo azul; entrada de patinhas de centolla (um tipo de carangueijo gigante) com limão e creme de queijo; sorvete de menta no intervalo, para “limpar” o paladar; pato com ervas e, para terminar, uma sobremesa com framboesas frescas e sorbet. À meia noite ainda teria espumante e uma mesa de doces, mas não tínhamos mais forças para esperar…

Papai Noel foi muito legal com a gente esse ano. Valeu, viu?

Viagens

2010 • Ilha de Chiloé 
2009 • El Calafate
2009 • Laguna Pozuelos
2008 • Valles Calchaquíes
2007 • Iquique
2006 • Uruguai
2005 • Paso San Francisco
2004 • Península Valdés
2003 • Paso Agua Negra
2002 • Pucón
2010_Ilha_de_Chiloe.html2009_Laguna_Pozuelos.html2008_Valles_Calchaquies.html2007_Iquique.html2006_Uruguai.html2005_Paso_San_Francisco.html2004_Peninsula_Valdes.html2003_Paso_Agua_Negra.html2002_Pucon.html2009_Laguna_Pozuelos.htmlshapeimage_1_link_0shapeimage_1_link_1shapeimage_1_link_2shapeimage_1_link_3shapeimage_1_link_4shapeimage_1_link_5shapeimage_1_link_6shapeimage_1_link_7shapeimage_1_link_8shapeimage_1_link_9