Restaurante El Drugstore, Colonia de Sacramento, Uruguai •  janeiro 2007


[23 dez 2006] Nova Petrópolis

Saímos de Floripa no dia 23 bem cedo, na esperança de não pegar trânsito (doce ilusão) e fomos engarrafados até Caxias do Sul. Mesmo assim, as serras são maravilhosas e as estradas, além de decoradas com flores, são aromatizadas com eucalipto. Queríamos passar o Natal em Nova Petrópolis, uma charmosa cidade na Serra Gaúcha pela qual já havíamos passado em outra ocasião. Ficamos 2 deliciosos dias hospedados no Hotel Suíço, uma pousada cheia de chalezinhos. Fiquei encantada com as hortênsias, os jardins, e até o capricho da dona da pousada em servir o café da manhã. Repare que ela faz uma escultura na manteiga todos os dias só para fazer o nosso café da manhã mais bonito. Adoro gente com senso estético!

2006 • Uruguai


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[25 dez 2006] Pelotas

Depois de 2 dias descansando e vendo flores por todos os lados, partimos para Pelotas. Como era feriado, as estradas nas cercanias de Porto Alegre, em geral movimentadíssimas, estavam bem calmas. Mas os últimos 130 km foram inesquecíveis, pois o céu resolveu despencar sobre os nossos capacetes. Choveu compulsivamente o tempo todo e não tinha abrigo à vista (estávamos tão molhados que, se parássemos, seria pior ainda). Um banho completo, até o último ossinho, nem as nossas roupas especiais aguentaram. Chegamos no hotel ensopados e com toda a bagagem molhada (normalmente não molha, mas a chuva se superou). Tomar um banho e um chocolate quente foi a delícia das delícias e como o ar condicionado trabalhou a noite toda, conseguimos secar quase tudo.

Pelotas foi uma decepção. Parece já ter sido bela, mas está muito decadente. Basta dizer que rodamos todo o centro e o máximo que conseguimos em termos gastronômicos foi jantar numa padaria. Uma pena mesmo, pois as histórias que já ouvi sobre a pujança do lugar no começo do século passado são incríveis e os prédios históricos que restaram são lindos.


[29 dez 2006 — 1 jan 2007 ] Colônia de Sacramento

Chegamos ao ponto máximo da viagem: Colônia de Sacramento vale uma viagem só para conhecê-la. É uma cidade histórica, tombada como Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO. O bairro antigo data de 1680, fundado como colônia portuguesa. Foi objeto de discórdia entre Portugal e Espanha por muitos anos, e até hoje ambas as influências são percebidas (eu, pessoalmente, adoro a arquitetura espanhola, com seus pátios floridos e chafarizes no meio das edificações).

Colônia é linda, charmosa e muito, muito calma. Parece todo mundo fica automagicamente zen quando chega lá. Quase ninguém anda de carro, e as motonetas (tipo vespa ou mobilete) imperam. Os pedestres têm tanta prioridade que um cego pode caminhar a qualquer hora do dia ou da noite sem correr o menor risco de ser atropelado.

Nas praças, pequenos papagaios e periquitos fazem alvoroço entre as árvores nos finais de tarde. Lá se encontra gente do mundo todo (não sei por que, as pessoas queriam falar francês comigo — será por causa do meu nariz?). A infra-estrutura turística é de dar inveja a qualquer cidade estrelada. Além das motonetas, eles alugam carrinhos daqueles de golfe para que se possa passear pela cidade com mais conforto. Não há restaurante ou bar sem um chef bem qualificado, de maneira que se come muuuuuiiiito bem!!

As ruas são tão arborizadas que me lembraram os álamos de Mendoza, na Argentina. Por que a gente não tem ruas assim por aqui?


A noite de reveillon foi especial. É que não se pode esquecer que em frente à Colônia de Sacramento, do outro lado do Rio da Prata, fica a cidade de Buenos Aires. De dia não dá para ver a cidade, pois o rio é muito largo, mas à noite, especialmente no dia de ano novo, pode-se ver as luzes e os fogos. Como na Argentina não se adota o horário de verão, vimos os fogos em Colônia e, uma hora depois, os fogos de Buenos Aires.

Foi tudo lindo e mágico e me fez lembrar da música "Al otro lado del rio" que Jorge Drexler (que não por acaso, é uruguaio) fez para o filme Diários de Motocicleta (outra coincidência). O refrão diz justamente: "Creo que he visto una luz al otro lado del río".

Bom, mas depois de quase 4 dias na moleza, era hora de seguir viagem. E partimos para Mercedes, nosso próximo destino.


Passamos o reveillon no bar e restaurante El Drugstore (ele são muito debochados, por isso o nome). Além de uma cozinha excelente, que fica no meio do salão, à vista de todos, a decoração colorida me fez sentir em casa. Adorei as toalhas de bolinhas!


Fray Bentos é uma cidade que se ressente até hoje do fechamento da fábrica de derivados de bovinos que já foi considerada a maior do mundo. Em 1865, a companhia alemã Liebig produzia para o mundo inteiro o primeiro extrato de carne que se tem notícia. Com farta matéria-prima no Uruguai, a fábrica abasteceu o mercado durante a primeira e a segunda guerras e tornou o nome Fray Bentos famoso internacionalmente. No seu auge, a Liebig empregou 4.000 pessoas de todas as nacionalidades (Fray Bentos possuía, nessa época, pouco mais de 10.000 habitantes). A Vila operária foi batizada Anglo, como é conhecida até hoje.

Visitar as instalações, que se converteram no Museu da Revolução Industrial, não deixa de ser uma experiência impressionante. Há relatos de sucesso empresarial (uma verdadeira aula de marketing) com programas de fidelidade em pleno século XIX! Mas há também o testemunho de uma empresa que não se atualizou. Os escritórios, fechados na década de 80, ainda possuem máquinas de escrever manuais, móveis de madeira maciça escura e calculadoras a manivela. Houve um tempo em que toda a frota de navios, barcos e barcaças que navegavam no Rio da Prata foi comprada pela companhia para exportar seus produtos.

Mas outra experiência muito interessante aconteceu enquanto estivemos na cidade. Informados de que a visita guiada acontecia às 15 horas, fomos para lá somente para descobrir que, na verdade, o horário havia sido trocado para às 18 horas. Assim, tivemos que ficar 3 horas na cidade. Os museus estavam fechados, não havia shopping nem cinema. Fomos então procurar uma banca de jornais para conseguir algo para ler. Foi então que aconteceu algo surreal: vasculhei a cidade toda e não achei nem livraria, nem banca. Perguntava para os comerciantes e eles me olhavam como se eu estivesse procurando um disco voador para alugar. Todo mundo repetia que não havia nenhum lugar que vendesse livros, revistas ou jornais na cidade. Na verdade, havia dois estabelecimentos chamados "librerías", mas só vendiam brinquedos e cadernos. Perguntei para uma das donas onde estavam os livros e ela me disse que não vendia mais porque ninguém comprava. Até que encontrei um senhor que carregava um caminhão com ajudantes. O seguinte diálogo se travou (eu juro):

— Senhor, onde posso comprar algo para ler?

— Para ler?

— Sim, para ler.

— Pode desistir, aqui você não vai encontrar nada. Mas para que você quer ler?

Bom, para resumir a história, encontramos um cybercafé que nos salvou, já que estava chovendo e não dava para ficarmos sentados no banco da praça meditando.

Fray Bentos agora está brigando com toda a Argentina porque quer instalar justamente uma fábrica de papel lá que vai poluir o rio Uruguai, que divide os dois países. Não é irônico?


Outra coisa muito interessante que achei em Mercedes foi o hábito de pintar caprichosamente os meio-fios nas esquinas para indicar a mão. Assim fica fácil dirigir, pois você logo sabe de que lado podem vir carros (ou motos, no caso). Por incrível que pareça, é bem mais visível do que as placas de trânsito que se misturam com propagandas. Uma solução barata, criativa e que funciona muito bem!


Mas nós viemos até Mercedes, na verdade, porque ela fica próxima à cidade de Fray Bentos e queríamos conhecer o Museu da Revolução Industrial que fica lá (o guia dizia que Mercedes tinha mais opções de hospedagem).

Aqui seguem as poucas fotos tiradas na estrada, pois, nos 20 km que separam as duas cidades, resolvemos ir numa moto só e eu fui de garupa. Em duas motos é complicado parar para fotografar, pois é preciso achar um lugar firme o suficiente, estacionar e só então descer e sacar a máquina. Isso sem falar que você precisa avisar o outro que vai parar... complicado. Mas vejam que lindo o caminho entre Mercedes e Fray Bentos!


Depois disso, começamos a voltar. E, como diz o Conrado, basta "embicar" a moto na direção de casa, que a gente logo começa a sentir um elástico puxando. Nos 4 dias de viagem que restavam, dormimos em Rivera, separada de Santana do Livramento por apenas uma rua; em Santa Maria e Vacaria, no Rio Grande do Sul, até chegar em casa, dia 6 de janeiro, cansadíssimos, mas muito felizes.

Adorei pilotar tanto assim, mas o mais legal mesmo foi não precisar andar as duas semanas de Timberland e poder levar mais um par de sapatos (as mulheres vão me entender!). De garupa eu não ando mais...

Já tínhamos ido uma vez ao Uruguai e visitamos Punta del Leste e Montevideo (não de moto) e havíamos gostado muito. Nessas férias, queríamos um roteiro mais curto, de apenas duas semanas, e nosso vizinho veio a calhar.

A viagem foi muito especial porque, pela primeira vez, fui pilotando a minha própria moto. Fomos apenas eu e o Conrado. Ele foi numa BMW F650GS e eu em uma Honda Falcon NX4.

Pulamos Montevideo porque motos e cidades grandes são incompatíveis (moto + cidade grande = meleca) e queríamos uma viagem tranqüila. Tanto que, dos 3.500 km percorridos, os trechos mais estressantes foram a saída e o retorno de Florianópolis, que está impossível neste verão!

O Uruguai é barato em relação aos nossos preços e muito seguro. Além disso, é diferente, encantador, interessante, surpreendente e os nativos são muito simpáticos e amigáveis. Venha conosco conhecer um pouquinho!


[26 — 27 dez 2006] La Paloma, Uruguai

Saímos cedo de Pelotas e passamos pela Reserva Ecológica do Taim, na Lagoa Mirim, rumo ao Uruguai.

A idéia inicial era pernoitarmos no Chuí (agora teremos que ir ao Oiapoque também!), mas, estudando os guias de viagem, descobrimos que seria mais interessante visitar o balneário La Paloma.

A cidade não é sofisticada, mas também já deve ter tido seus dias de glória. O lugar é uma gracinha, com praias calmas e uma farol muito bonito. As casas são simples e harmônicas, com jardins muito bem cuidados. As ruas são largas e tudo é muito calmo e tranqüilo (se bem que a temporada começa para valer em janeiro). Há excelentes lugares para comer e uma peculiaridade: as casas não têm números, apenas nomes inspirados. Adorei!


[28 dez 2006] Piriápolis

Pode-se dizer que Piriápolis é a “Punta del Leste dos pobres” ... a cidade é bonita, tem boa infra-estrutura turística, ótimos restaurantes e praias bem legais, mas sem a pompa, o luxo e, principalmente, os preços da badalada Punta. Aliás, na viagem de Piriápolis a Colônia, passamos por esse famoso balneário para sentir o clima (as praias são belíssimas e um a apartamento de frente para o mar pode custar U$ 5 milhões!). Era quase meio dia, de maneira que paramos num café para tomar sucos e comer uns sanduíches — o que nos custou a bagatela de R$ 80,00! Vale ressaltar que, pelo menos, estava tudo uma delícia. Punta del Leste tem esse nome porque é realmente uma ponta — de um lado ficam as praias do Atlântico (praias de oceano) e do outro, as praias do Rio da Prata (que eles chamam praias de mar).


[2 jan 2007] Mercedes e Fray Bentos

No caminho para Mercedes pegamos o pior trecho de estrada. É que havia uma obra de restauração que interrompia a via com um monte de areia fofa. Para evitar o acúmulo de poeira, um caminhão-pipa fazia a gentileza de passar com um chuveirinho e transformar aquele monte de areia em um monte de lama. O resultado não poderia ser pior: na areia, você anda com o risco de derrapar; na lama, não há como andar de jeito nenhum, pois ela gruda nos pneus e a moto fica querendo sambar loucamente. Como era de se esperar, a minha moto se estatelou (eu nem caí) e o Conrado teve que nos salvar...

Mercedes foi uma grata surpresa. Além de muito bonitinha, comecei a me dar conta de que as motonetas eram mania nacional. Só então ligamos as coisas: a gasolina no Uruguai é muito cara (R$ 2,85 a comum), a população é pequena e as cidades são calmas. Os uruguaios então adotaram as motonetas como meio de transporte preferencial — e absolutamente TODO MUNDO tem uma. É divertido ver as senhorinhas beirando os 70 em suas motonetas e os velhinhos com suas ágeis vespas. Eles vão para todos os lugares lépidos e fagueiros! E há máquinas de todas as cores e modelos, muito pitoresco. Se as nossas cidades não tivessem tanta gente nervosa, seria a solução ideal.

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