[9 jan 2005] Epílogo

Ontem visitamos o Parque Nacional Los Alerces. Estava bem nublado e o caminho, de ripio, nos fez gastar 5 horas para andar 100 km (o mesmo tempo que fizemos os 600 km do dia anterior). De qualquer maneira, valeu a pena. Só ficamos mais cansados.

Depois dessa epopéia, chegamos em Bariloche e a cidade é a versão argentina de Gramado e Canela no que diz respeito à arquitetura e compras. Ela está localizada em um lugar lindíssimo, parece que a cidade escorregou da cordilheira e caiu lá em baixo, às margens de um enorme lago azul que deve ser um gelo, pois o vento é violento.

Tem muita lojinha e bons restaurantes (aliás, estamos comendo muito bem nessa viagem — o roteiro gastronômico está irretocável). O problema é que a cidade cresceu demais e já tem uma periferia feia e barra pesada. Parece aquelas cidades feitas para explorar turista, tudo parece muito artificial. De qualquer maneira, tem a sua beleza, principalmente pela geografia e arredores.

Hoje estamos em San Martin de Los Andes. Essa sim, uma verdadeira jóia. A 5 km de comecar a cidade, o que deveria ser a perifeira, já se encontram casas em estilo alpino. Detalhe: todas! Nao há uma única casa, por mais simples que seja, que não esteja em harmonia com o conjunto e não tenha um belíssimo jardim. Para se ter uma idéia, as calçadas estão cheias de rosas acabadas de desabrochar, de todas as cores, o que torna a cidade perfumadíssima. Mesmo tendo só uns dez quarteirões por quatro, o centro tem três praças lindas e grandes. San Martin também tem um lago e o comércio é muito bem desenvolvido, mas com muito menos gente e bem mais caprichado. Internet é o que não falta (aliás, como em toda a Argentina. Nós contamos pelo menos 8 estabelecimentos com umas 20 máquinas cada).

Tanto aqui quanto Bariloche ficam lotados no verão (por causa dos lagos e montanhas) e no inverno (o pessoal vem para esquiar). Isso aqui no inverno deve ser uma coisa! Tudo bem quentinho e com calefação, chocolates e comidas gostosas. Por certo o povo patina no lago.

O que me chamou atenção em toda Argentina (pelo menos a parte que vimos até aqui) é a imensa quantidade de heladerias (sorveterias). Sorveteria aqui é que nem farmácia no Brasil: tem pelo menos uma em cada esquina, e às vezes, duas ou três. Eu é que nao sou muito chegada em sorvete, mas os que experimentei estavam deliciosos.

Amanhã começamos a voltar para Buenos Aires e veremos só estrada. Pelo menos a primeira parte sabemos que tem um caminho lindíssimo (teremos que voltar um pedaço), costeando um rio azul de doer e com vista para a Cordilheira dos  Andes. Dá para ver até um vulcão nevado. Ah, e também tem cervos (um tipo de alce sem galhos) no caminho. Hoje vimos uns três, mas foi bem rápido.

Depois pegamos rotas expressas e dormimos em Neuquem (capital deste estado) e Santa Rosa (mais para cima). Na quarta à tardinha chegamos a Buenos Aires (eu embarco quinta ao meio dia).


[1 jan 2005] Patagônia

Chegamos hoje à divisa que marca o início da Patagônia Argentina (é quando se cruza o Rio Negro, vejam em um Atlas). Ontem dormimos na Sierra de La Ventana que tem esse nome por causa de uma pedra gigantesta furada que parece uma janela (dá para ver da estrada). As estradas são retas intermináveis, com plantações de trigo e pasto para gado por todos os lados. Aliás, não entendo nada de bois e vacas, mas me chamou atenção que os daqui são todos monocromáticos (pretos ou marrons), com a cara branca. Deve ser a marca deles ...

Viemos preparados para o frio (a dona da pousada nos disse que na semana passada teve que ligar a calefação, tão frio estava), mas pegamos 38 graus às 5 da tarde!!!!!! Estamos nos sentindo como naqueles filmes americanos passados na rota 66 que cruza o deserto e tem um posto a cada 150 km. Aliás, hoje socorremos uma moto que ficou sem nafta (gasolina) na estrada. Encontramos mais umas 5 motos de gente fazendo um trajeto parecido com o nosso, só que eram argentinos.

Acabamos de chegar a Las Grutas, que é um balneário com pouca areia e a praia a 20 metros abaixo da rua que costeia o local. É bem exótico, tanto a Praia, que fica sob um penhasco cheio de buracos (as tais grutas) onde dizem que vive um papagaio (o Loro da gruta) que, se for esperto, deve ter se recolhido para meditar e só volta em março, pois o lugar está lotado. A faixa de areia é mínima, escura e fofa, mas tem umas mil pessoas e uns 200 cachorros (perros) por metro quadrado. Como não trouxemos nem um chinelo (estamos abarrotados com roupas de frio), resolvemos passear pela praia de Timberland mesmo (imaginem o mico — eu e o Conrado já temos cara de gringos mesmo). Foi melhor, no final, depois que a gente viu a quantidade de cachorros se esfregando na areia e a farofada. Uma coisa surreal mesmo. Nao é de se admirar que eles adorem Floripa!

2004 • Península Valdés


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Península Valdés, Argentina • janeiro 2005

 
[4 jan 2005] Península Valdés

Anteontem passamos a noite na Península Valdés, em uma baía paradisíaca chamada Puerto Pyramide. O lugar parece uma daquelas praias nas ilhas gregas. O plano era ir no dia seguinte conhecer a península, mas não foi possível por causa das condições das estradas (areião que derruba motos).

O vento aqui faz parecer o vento sul uma reles brisa. Chega a virar carros. Há ovelhas passeando pela estrada, de vez em quando elas resolvem mudar de lado e a gente tem que ficar atento. Então, viemos para Puerto Madryn (uma gracinha de cidade, lidíssima) e alugamos um carro.

Passamos hoje o dia todo na península (sao mais de 400 km para fazer o contorno) e ficamos encantados com o lugar. Vimos uma elefanteria, que é onde os elefantes marinhos têm filhotes e acasalam. Uns bichos enormes. Como é uma reserva, não se pode tocá-los. Só se pode descer até a praia com um guia, que instrui todo mundo para ficar em silêncio e sentado a 10 metros dos bichos, só observando. Eles têm um cheiro fortíssimo (os bichos, não os guias, eheheh) e fazem um barulho bem alto que parece um arroto. Os filhotes, enormes, são muito fofos.

Vimos também uma loberia cheia de filhotes e machos com seus harens de lobos do mar. Vimos orcas que ficam nadando por perto, pois os filhotes dos lobos têm que aprender a nadar e elas aproveitam para comê-los. Felizmente não presenciamos nenhuma refeição...
 
Pingüins eram muitos, mas só deu para ver de longe. Esse é um dos lugares mais lindos que eu já vi na vida, vale a pena visitar.


[7 jan 2005] Do litoral à Cordilheira

Hoje cruzamos o país de leste a oeste (mais de 600km). Olhem no mapa: saída de Trellew (costa atlântica) e chegada em Esquel (aos pés da Cordilheira dos Andes).

Eu que não esperava mais nada dessa viagem de tão encantada que estava, me surpreendi uma vez mais: esse país é lindo! Nunca deixa de ser emocionante avistar a cordilheira pela primeira vez na estrada.

A gente saiu do litoral às 7h30 com aquela vegetação desértica até onde a vista alcança, ventos cortantes (não tem barreira para eles) e calor. Lá pelo meio do caminho já começa a pré-cordilheira, com montanhas enormes e coloridísimas (mais coloridas ainda do que aquelas no Paso de Águas Negras, da última viagem).

A paisagem é espetacular, de tirar o fôlego. O vento continua, agora contra e com toda força (é melhor assim — vento de lado dificulta mais a viagem — bom mesmo é vento a favor, né?). Pena que não deu para tirar nenhuma foto, pois a luz não era adequada e nuvens negras e ameaçadoras nos apressavam. O frio aqui é cortante, agora tivemos que usar todo o agasalho que trouxemos (ainda bem que foram suficientes), inclusive toucas de lã.

Amanhã vamos visitar o Parque Nacional dos Alerces, cheio de montanhas, árvores milenares e lagos. É que aqui a cordilheira é mais baixa (os picos têm no máximo 2000 m contra aqueles 5000 m e 6000 m que vimos o ano passado). Por isso, a umidade que vem do oceano pacífico consegue passar e se condensa desse lado, cuja terra, por esse motivo, é muito fértil.


[6 jan 2005] Punta Tombo

Estamos em Trellew, uma cidadezinha pequena e charmosa, colonizada por imigrantes galeses (do País de Gales). Aqui, como nas outras que ficamos, tudo fecha das 13h às 17h30 para a siesta. Depois tudo abre e funciona até às 21h30. No horário da siesta, a cidade inteira fica deserta, parece que passou um disco voador e levou todo mundo. A onda de calor ainda continua, só o vento constante é que contribui para refrescar (às vezes até esfria demais).

Mas vamos aos pingüins. É a coisa mais surreal que eu já vi! Depois de uma longa viagem em estrada de terra (tivemos que alugar um carro, pois a moto escorrega no areião — até os carros escorregam se o motorista se empolgar muito — tanto que existe um seguro especial para capotagem, já que isso é comum aqui), pagamos o ingresso para entrar na reserva Punta Tombo (essa foi a única vantagem que eu vi sobre o mercosul — nós, brasileiros, pagamos $10 – os outros países pagam $35 para entrar — e olha que estava cheio de ingleses, alemães e italianos.

Depois da entrada, fomos orientados a estacionar o carro em um lugar apropriado longe da praia, a alguns km do acesso. Não é que tivemos que parar duas vezes porque uma família de pingüins resolveu atravessar na nossa frente e ficou um tempão indecisa entre ir ou voltar? Eles andam na estrada, no estacionamento, na rua, inclusive na reserva, atrás de uma cerca de arame que não podemos passar — eles não estão nem aí, andam no meio de todo mundo com aquela pose e elegância que lhes são peculiares (como é que eles conseguem andar tão longe com aqueles pezinhos?). Os ninhos ficam em buracos debaixo da vegetação (aquele arbusto de deserto). Não sei para que tem a cerca, mas o povo respeita muito. Não se pode tocar neles, falar alto, correr e nem dar comida. E os humanos obedecem direitinho! Já os pingüins...

Os pinguins adultos têm quase meio metro de altura e pesam de 4 a 5 kg. Nessa época do ano, os filhotes do ano anterior trocam a penugem cinza pelo pêlo preto e a barriga branca. A fêmea só põe 2 ovos por ano e ela e o macho chocam juntos por 40 dias. Depois que os filhotes nascem, elas escolhem o mais forte para cuidar e o outro tem que se virar. Estranho, né?

Essa colônia tem mais de um milhão e meio de pingüins, é pingüim que não acaba mais! Na hora de ir embora, um ônibus de turismo teve que esperar uns 15 minutos até que dois cavalheiros pingüins saíssem debaixo dele (eles estavam pegando uma sombra). Ninguém pode cutucar os bichos, pois o lugar é deles. Uma experiência única para guardar.

Amanhã temos bastante estrada (600 km), pois vamos a Esquel. No dia seguinte, chegamos a Bariloche. Por mim, depois de tudo que eu já vi, o que vier é lucro. Fiquei muito impressionada com tanto bicho do mar sendo respeitado assim no seu ambiente natural. O mundo ainda não está perdido!!!!


Agora acabou-se o que era doce. Para onde será que iremos no ano que vem?

Viajar pela Argentina é lindo e muito barato. O país é enorme, o que rende muitas férias, os argentinos são muito gentis e as estradas são excelentes. Além disso, há outro incentivo: na Patagônia, porque as distâncias são muito grandes e a região é pouco habitada, a gasolina (que lá eles chamam nafta) é subsidiada. E se na região de Buenos Aires o preço do litro da gasolina comum é R$ 1,70, lá é R$ 1,10 (o peso está igual ao real — dados de 2005).

Encontrei-me com o Conrado em Buenos Aires dia 30/12/04 e passeamos pela primeira metade da Patagônia, que é muito grande (vai até o extremo sul do continente). Quem sabe o ano que vem a gente vê mais um pedaço.

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