Essa foi a nossa primeira viagem de moto. O Conrado, o Verani e o Jorge só tinham feito passeios de algumas centenas de km antes dessa experiência. Não tínhamos roupas adequadas, nem luvas ou botas (exceto o Conrado que tinha a jaqueta e a calça).

As garupas (eu, Nelci e Terezinha) foram de avião até Santiago do Chile, onde se encontraram com os maridos. Estavam todos muito entusiasmados por verem a Cordilheira dos Andes pela primeira vez.

Depois do primeiro dia em Santiago com direito a funicular e teleférico (linda cidade, bastante arborizada e com muitas opções culturais), fomos no sábado a Valparaíso e Viña Del Mar. Em Valparaíso (achei a cidade feinha, talvez não tenhamos ido aos lugares certos) visitamos a casa de Pablo Neruda e almoçamos na versão local do restaurante Arante do Pântano do Sul. Viña del Mar lembra Punta Del Leste: a praia não é lá essas coisas (só 3,5 km), mas o entorno é espetacular. Os prédios são luxuosos, colossais e com um projeto de urbanismo que contempla muitos jardins, árvores e calçadas bem largas. Ninguém teve coragem de arriscar um mergulho no Pacífico, pois, mesmo sendo verão, a água estava geladíssima.


Pucón

Depois de ter passado a noite numa pequena cidade chamada Curicó (quem nasce em Curicó é o quê??), partimos rumo ao sul e ao vulcão Villa Rica. Passamos por uma cachoeira muito bonita, considerada a versão local das Cataratas do Niágara (acho que não chega a tanto, mas vá lá) e, às 5 da tarde, sentados para fazer um lanche e depois de andar 250 km, fizemos um Conselho de Viajantes e descobrimos que só eu e o Conrado queríamos escalar o vulcão, mais ao Sul. Decidimos então nos separar (nós dois andamos mais 300 km e chegamos quase às 10 horas da noite em Pucón).Por causa do horário de verão e da latitude, escurece depois das 21h30, de maneira que pudemos chegar à cidade com os últimos rasgos de luz. É uma região de lagos de frente para um vulcão (o tal Villa Rica) com neve lá em cima.

Pucón é bem turístico e o centro é bem movimentado, mas o mais legal é o entorno. As casas ao redor do lado são belíssimas e, no fim da tarde, o céu fica cor de rosa e o lago fica lilás. É o próprio paraíso na terra. O passeio no vulcão leva o dia todo e começa às 7 da manhã (inclui um trecho de carro, outro de teleférico e umas 5 ou 6 horas de caminhada. A volta é de tobogã na neve (1,5 horas descendo de tobogã, já pensaram?). Como chegamos tarde da noite, não ia dar para acordar tão cedo no dia seguinte e enfrentar a maratona. Assim, aproveitamos o dia para passear e tomar banho numa das várias termas locais para colocar o corpinho em dia. Aliás, as termas são um capítulo à parte. Você toma banho em piscinas naturais com água bem quente oriunda das entranhas do vulcão e, ao ladinho, dá um mergulho no rio geladésimo formado por águas de degelo. Sentimos na pele o processo de pasteurização.


Subida ao vulcão Villa Rica

Eu nem acredito no que fizemos hoje! Gente, o vulcão é demais!!!!

Imaginem vencer a pé um morro de 2.800 m de altitude, com uma caneleira de 2 kg em cada perna (as botas de alpinismo) e uma mochila de 20 kg nas costas, um sol de rachar na cabeça e pisando o tempo todo em neve!!!

Como resolvemos subir no dia primeiro de janeiro e, obviamente, era feriado, o teleférico não estava funcionando. Então, tivemos que fazer esse trecho inicial a pé mesmo.

Atentem para o detalhe de que o ar vai ficando cada vez mais rarefeito! Isso tudo em pouco mais de 5 horas com apenas 3 ou quatro paradinhas de 5 min para colocar mais roupa e passar mais filtro solar. Só posso dizer que até agora eu não acredito que conseguimos (o Conrado é mais forte que eu, mas mesmo assim está morto!).

Olhamos o vulcão bem nos olhos e passamos meia hora lá em cima. A experiência é única (única mesmo, não sou louca de fazer isso de novo; talvez na próxima encarnação). É um esforço sobrehumano, a gente acha que não vai conseguir (para mim, a mochila era pesada demais, mas tínhamos que levar todo o equipamento para a neve, comida e mais 1,5 litros de água por pessoa).

A subida é muito íngreme e temos que andar o tempo todo em ziguezague. Me senti como um daqueles sobreviventes de filme. A sensação é esquisita, por causa do pouco oxigênio a gente vai ficando com o raciocínio meio lerdo (essa e a única explicação para continuar com essa loucura!). O Conrado trouxe dois pedacinhos de lava de lembrança (parecem bosta de vaca).

O equipamento estava todo incluído no pacote (sapatos de neve pesadíssimos, polainas reforçadas para proteger da neve, calças e jaquetas especiais, touca, ferramentas, máscara para aguentar o bafo de enxofre do vulcão, luvas e inclusive a mochila). Éramos 14 pessoas (quatro alemães, peritos em subir em vulcões, um australiano, um italiano, dois israelenses, mais uns ingleses, noruegueses e nós) e mais o guia. A vista é espetacular durante todo o trajeto, parece que estamos sobrevoando de avião, de tão alto. Da até para ver um bom pedaço da Cordilheira dos Andes, que corta todo o Chile.

A descida foi bem mais fácil; só 1h30 min descendo as pirambeiras escorregando na neve (foi o máximo, devo estar com gelo até no cérebro) com algumas partes caminhando com neve até os joelhos. Faz parte do equipamento uma picaretinha que a gente usa como freio nas curvas da descida. Às vezes, a gente fazia uma barbeiragem e saía capotando que nem uma bola, com mochila e tudo! Delícia!

Só posso dizer que o primeiro dia de 2003 foi muito especial (só espero que o resto do ano não seja tão difícil!!). Ficamos mortos de cansaço mas muito felizes. No dia seguinte seguimos para Osorno (onde tem outro vulcão, mas olhamos só de longe) e depois nós garupas pegamos um ônibus para voltar a Santiago e voar de volta para casa.

Os rapazes atravessaram a cordilheira em direção a Bariloche e levaram mais uma semana para chegar.

Subida do Vulcão Villa Rica em Pucón, Chile • janeiro 2003

2002 • Pucón


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